Ao...
Ao amor que se me prefira
Ao poema que eu me refira
Ao combate, que se não me fira
Ao ardor, que em mim revira;
Ao espelho que se mira
Ao sangue que se tira
Ao delírio que me delira
Ao piano, que soa co'a lira;
Ao pavor da madrugada fria
Ao versar que eu não rimaria
Ao Jesus, José e Maria
Ao ausente que lá não estaria;
Ao chorar que a lágrima abria
Ao poeta sem maestria
Ao choro que pra sempre eu choraria
Ao terror sem nenhuma alegria;
Ao doente que jamais se cura
Ao inimigo de toda a criatura
Ao pingar que até a pedra fura
Ao infeliz que respira amargura;
Ao amante que até a alma jura
Ao amado que cobra usura
Ao cavaleiro da triste figura
Ao cavalo com sua secura;
Ao desespero que me vem à porta
Ao frio que já ninguém suporta
Ao rio com sua água já morta
Ao brio que nenhum valor exorta;
Ao rimar nem tão reto numa linha torta
Ao gritar que ninguém se importa
Ao viver, que ao nascer se aborta
Ao que tudo lê e ao que nada reporta;
Enfim, este poema vai
Ao que sofre, ao que cai
Ao que se comporta, se contrai
Ao que fica, ao que sai;
Ao que não tem mãe nem pai
Ao que se remói num ai
Ao pobre infeliz que se trai
Ao que no leito à noite recai...